Transtorno de Personalidade Esquizotípica
- Tatiana Moita

- 4 de fev.
- 5 min de leitura

Você já conheceu alguém que tem pensamentos incomuns, acredita em ideias estranhas ou interpreta acontecimentos cotidianos como sinais misteriosos? Alguém que parece sempre deslocado em interações sociais e se expressa de maneira diferente? Esse pode ser o caso de uma pessoa com Transtorno de Personalidade Esquizotípica, um dos transtornos descritos no DSM-5-TR.
Esse transtorno é caracterizado por um padrão persistente de desconforto social, pensamentos e comportamentos peculiares e crenças incomuns. As pessoas com essa condição podem ter dificuldades em interpretar corretamente as intenções dos outros, além de enxergar conexões entre eventos que, para a maioria das pessoas, não fazem sentido.
Principais características do transtorno
1. Crenças ou pensamentos mágicos incomuns: Quem tem esse transtorno pode acreditar em fenômenos sobrenaturais, telepatia ou prever o futuro. Essas crenças podem influenciar suas decisões e comportamentos.
2. Desconfiança e paranoia leve: Embora não chegue ao nível de um transtorno paranoide, essas pessoas frequentemente interpretam mal as intenções dos outros, sentindo-se desconfiadas ou ansiosas em situações sociais.
3. Percepções incomuns: Sensações estranhas, como sentir presenças quando ninguém está por perto ou acreditar que algo tem um “significado especial” para elas, são comuns.
4. Modo de falar e vestir excêntrico: Pode ser difícil acompanhar a conversa de uma pessoa com esse transtorno, pois elas podem falar de maneira vaga, metafórica ou com frases incomuns. Algumas também se vestem de forma peculiar, sem perceber que destoam dos outros.
5. Dificuldades em relações sociais: Muitas vezes, essas pessoas querem interagir, mas sentem desconforto ou ansiedade intensa em ambientes sociais. Como resultado, acabam isoladas ou com poucos amigos.
Como isso afeta o dia a dia?
O Transtorno de Personalidade Esquizotípica afeta a forma como a pessoa interpreta a realidade e se relaciona com os outros. Elas podem ter dificuldades em ambientes de trabalho por não entenderem normas sociais sutis ou por expressarem ideias que parecem desconectadas da realidade comum.
No dia a dia, é comum que essas pessoas sejam vistas como “estranhas” ou excêntricas. Podem relatar experiências sensoriais incomuns, evitar interações sociais por desconfiança ou simplesmente preferirem um mundo interno cheio de simbolismos e significados próprios.
O que NÃO é o Transtorno de Personalidade Esquizotípica
• Não é esquizofrenia. Embora compartilhe algumas características, como crenças incomuns e dificuldades sociais, pessoas com esse transtorno não apresentam delírios ou alucinações intensas e não perdem contato com a realidade.
• Não é um estilo de vida excêntrico. Algumas pessoas escolhem viver de maneira diferente da maioria, mas isso não significa que tenham um transtorno.
• Não é Transtorno de Personalidade Esquizoide. No esquizoide, há um total desinteresse por relações sociais. No esquizotípico, existe vontade de se conectar, mas a ansiedade e os pensamentos peculiares dificultam isso.
É possível ajudar?
Sim! Embora muitas pessoas com esse transtorno não percebam que precisam de ajuda, a terapia pode ser um recurso valioso. A psicoterapia pode auxiliar no desenvolvimento de habilidades sociais, na identificação de padrões de pensamento distorcidos e na redução da ansiedade em interações interpessoais.
Além disso, em alguns casos, medicamentos podem ser indicados para tratar sintomas associados, como ansiedade ou desconfiança excessiva.
Uma visão empática
O Transtorno de Personalidade Esquizotípica pode tornar a vida social mais desafiadora, mas isso não significa que essas pessoas não tenham valor ou não possam construir relações significativas. Com compreensão e apoio, elas podem encontrar formas de se conectar ao mundo à sua maneira.
Nos próximos textos, continuaremos explorando os diferentes transtornos de personalidade, sempre com o objetivo de promover conhecimento e empatia sobre saúde mental.
Abaixo, apresentamos uma história fictícia criada para ilustrar como o Transtorno de Personalidade Esquizotípica pode se manifestar no dia a dia. A narrativa foi desenvolvida para tornar mais compreensível esse transtorno e seus desafios, ajudando a ampliar a empatia e o entendimento sobre saúde mental.
É importante destacar que essa história é totalmente inventada e não se baseia em nenhum caso real. Ela serve apenas como um exemplo hipotético para auxiliar na compreensão do transtorno.
O mundo secreto de Felipe: um exemplo de Transtorno de Personalidade Esquizotípica
Felipe sempre foi diferente. Desde criança, via padrões onde ninguém mais via. Para ele, os números tinham significados ocultos, os pássaros voavam de maneira sincronizada para enviar mensagens, e os sonhos eram visões de algo maior. Ele nunca se sentiu parte do mundo ao seu redor.
O dia a dia de Felipe
Felipe trabalhava como arquivista em uma biblioteca, um ambiente tranquilo e solitário, perfeito para ele. Apesar de ter colegas, raramente se envolvia em conversas e, quando falava, usava metáforas enigmáticas que deixavam os outros confusos.
Certo dia, ao ver um grupo de pombos pousando no parapeito da janela, ficou convencido de que aquilo era um sinal. “Eles querem me avisar sobre algo,” murmurou para si mesmo. Ao comentar com sua supervisora, recebeu um olhar de estranhamento. Para ele, porém, essa interpretação fazia total sentido.
Desafios sociais e familiares
Felipe morava sozinho e tinha poucas interações sociais. Sua família tentava manter contato, mas ele frequentemente recusava convites para encontros. Quando participava, acabava desviando as conversas para temas incomuns, como energias cósmicas ou significados ocultos nas palavras. Seus parentes não sabiam como reagir.
“Felipe, por que você não tenta se enturmar mais?”, perguntou sua irmã em um jantar de família. Ele apenas sorriu de forma misteriosa. “As conexões verdadeiras já existem antes mesmo de as palavras serem ditas”, respondeu.
Um evento inesperado
Certa noite, enquanto caminhava para casa, Felipe sentiu que estava sendo observado. Olhou para o céu e viu a lua brilhando intensamente. Para ele, aquilo era um presságio. Nos dias seguintes, começou a agir de forma mais reservada, evitando falar com as poucas pessoas com quem costumava interagir.
A tensão foi aumentando até que, em um surto de ansiedade, pediu demissão do trabalho. Sentia que algo grande estava para acontecer e precisava se preparar. A família, preocupada, o convenceu a procurar um terapeuta.
Reflexão e pequenos avanços
Na terapia, Felipe encontrou um espaço para organizar seus pensamentos. Aos poucos, percebeu que suas crenças não eram compartilhadas pela maioria das pessoas e que sua desconfiança constante tornava sua vida mais difícil. Com o tempo, aprendeu a lidar melhor com sua ansiedade e encontrou formas de manter seus interesses sem se afastar completamente do mundo real.
O que podemos aprender com Felipe?
A história de Felipe nos mostra como o Transtorno de Personalidade Esquizotípica pode influenciar a maneira como alguém percebe o mundo e interage com os outros. Com compreensão e apoio, essas pessoas podem aprender a equilibrar sua forma única de pensar com a realidade compartilhada pelos demais.
Nota Importante
A história apresentada acima é completamente fictícia. Não se baseia em nenhum caso real ou paciente específico. Seu objetivo é ilustrar, de forma simples e acessível, como o Transtorno de Personalidade Esquizotípica pode se manifestar no cotidiano, ajudando os leitores a entenderem melhor essa condição.
Referência Bibliográfica
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-5-TR. 5. ed., texto revisado. Porto Alegre: Artmed, 2023.





















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