Transtorno de Personalidade Esquizoide
- Tatiana Moita

- 29 de jan.
- 6 min de leitura

Você já conheceu alguém que prefere estar sozinho a maior parte do tempo, que não parece se importar com amizades, relacionamentos ou até mesmo com a aprovação social? Essa pessoa pode estar lidando com o Transtorno de Personalidade Esquizoide, uma condição que afeta a forma como alguém se relaciona com os outros e com o mundo ao seu redor.
O Transtorno de Personalidade Esquizoide, descrito no DSM-5-TR, é caracterizado por um padrão persistente de distanciamento social e por uma aparente falta de interesse ou prazer em interações humanas. Diferente de timidez ou ansiedade social, quem vive com esse transtorno realmente prefere a solidão e não sente a necessidade de estabelecer vínculos emocionais profundos com outras pessoas.
Principais características do transtorno
Para entender melhor, aqui estão algumas características típicas de quem convive com esse transtorno:
1. Preferência pela solidão: Essas pessoas geralmente escolhem atividades solitárias e podem evitar interações sociais, mesmo com familiares ou amigos próximos. Elas se sentem mais confortáveis sozinhas e podem não perceber os relacionamentos como algo importante ou necessário.
2. Falta de interesse em relações sociais: Diferentemente de quem se isola por timidez ou medo de rejeição, as pessoas com transtorno esquizoide não têm interesse genuíno em se conectar emocionalmente com os outros.
3. Pouca expressão emocional: É comum que elas pareçam “frias” ou indiferentes em situações em que outros demonstrariam emoção. Elas raramente expressam raiva, alegria ou outros sentimentos de forma visível.
4. Baixo interesse em intimidade: Relacionamentos românticos ou sexuais geralmente não são prioridade ou desejados.
5. Indiferença à aprovação ou crítica: Tanto os elogios quanto as críticas não parecem causar impacto emocional significativo.
Como isso afeta o dia a dia?
Para alguém com Transtorno de Personalidade Esquizoide, interagir socialmente pode parecer desnecessário ou até desconfortável. No trabalho, essas pessoas costumam preferir profissões ou funções que permitam independência e pouco contato com outras pessoas, como trabalhos remotos ou em áreas técnicas.
Na vida pessoal, elas podem evitar festas, reuniões de família ou encontros sociais, optando por passar o tempo sozinhas em hobbies ou atividades que não envolvam interação com outros. Embora não sintam a necessidade de conexões emocionais, o isolamento prolongado pode trazer consequências, como dificuldades práticas ou falta de apoio em momentos difíceis.
O que NÃO é o Transtorno de Personalidade Esquizoide
É importante diferenciar o transtorno de outras condições:
• Não se trata de ansiedade social, onde o isolamento ocorre por medo de julgamento.
• Não é depressão, onde o isolamento pode ser causado por tristeza profunda ou perda de interesse pela vida.
• Também não é o mesmo que o Transtorno de Personalidade Esquizotípica, que envolve crenças e comportamentos excêntricos ou pensamentos incomuns.
É possível ajudar?
Sim, mas há desafios. Muitas pessoas com esse transtorno não buscam ajuda porque não sentem que há algo errado em sua maneira de viver. Quando buscam tratamento, geralmente é por conta de outras dificuldades, como pressão social, conflitos no trabalho ou na família.
A psicoterapia pode ser útil, especialmente para ajudar a pessoa a desenvolver habilidades sociais, caso isso seja necessário para melhorar sua qualidade de vida. O terapeuta também pode trabalhar no desenvolvimento de estratégias para lidar com as expectativas sociais e os desafios que surgem no dia a dia.
Uma visão empática
É essencial entender que as pessoas com Transtorno de Personalidade Esquizoide não estão “erradas” ou “quebradas”. Elas simplesmente têm uma forma diferente de se conectar – ou de preferir não se conectar – com o mundo. Ao invés de tentar mudá-las, o mais importante é respeitar suas preferências e oferecer apoio quando necessário.
Nos próximos textos, continuaremos explorando os diferentes transtornos de personalidade, sempre com o objetivo de descomplicar esses temas e promover mais conhecimento e empatia sobre saúde mental.
Abaixo, apresentamos uma história fictícia criada para ilustrar como o Transtorno de Personalidade Esquizoide pode impactar o dia a dia de uma pessoa. A narrativa foi desenvolvida com o objetivo de tornar mais compreensível esse transtorno e seus desafios, ajudando a ampliar a empatia e o entendimento sobre saúde mental.
É importante destacar que essa história é totalmente inventada e não se baseia em nenhum caso real. Ela serve apenas como um exemplo hipotético para auxiliar na compreensão do transtorno.
A vida de Marina: um exemplo de Transtorno de Personalidade Esquizoide
Marina tinha 35 anos e vivia sozinha em um pequeno apartamento no centro da cidade. Trabalhava como revisora de textos para uma editora, um emprego que ela considerava perfeito, já que lhe permitia passar longas horas em silêncio e sem a necessidade de interagir com muitas pessoas. Embora fosse eficiente e competente, sua chefe muitas vezes achava difícil se conectar com Marina, que mantinha sempre uma postura neutra, sem muita expressão emocional.
O dia a dia no trabalho
No escritório, Marina era conhecida por ser uma pessoa reservada. Durante os intervalos, enquanto os colegas conversavam e riam na copa, ela preferia ficar na sua mesa, almoçando sozinha enquanto ouvia música nos fones de ouvido. Não era por timidez ou insegurança; Marina simplesmente não sentia necessidade de se envolver em conversas ou de criar laços com os colegas.
Certo dia, sua chefe sugeriu que ela participasse de um grupo de brainstorming para novos projetos da editora. Marina aceitou, mas durante a reunião, falou apenas o necessário. Mesmo quando questionada diretamente, ela dava respostas curtas, sem demonstrar muito entusiasmo ou emoção. Quando a reunião terminou, ela voltou para sua mesa aliviada, preferindo mergulhar novamente no trabalho individual.
Relações pessoais e familiares
Marina tinha um relacionamento distante com a família. Embora seus pais e sua irmã mais nova tentassem se aproximar, ela raramente aceitava convites para jantares ou encontros. Quando comparecia, era visivelmente desconfortável com a atenção ou com tentativas de conversas mais íntimas.
“Por que você não namora?”, sua mãe perguntou certa vez durante um almoço. Marina, sem mostrar nenhuma emoção, respondeu: “Eu prefiro ficar sozinha. Não vejo sentido em namorar.” Para ela, relacionamentos românticos pareciam complicados e desnecessários.
Já os poucos amigos que Marina tinha na época da escola acabaram se afastando ao longo dos anos. Não por brigas ou desentendimentos, mas porque Marina raramente os procurava ou respondia mensagens. Para ela, essas conexões não faziam falta.
Um evento inesperado
Certa manhã, Marina chegou ao trabalho e encontrou sua mesa ocupada por uma nova funcionária que a empresa acabara de contratar. Sem aviso prévio, haviam trocado sua mesa de lugar, e todos os seus pertences estavam em uma nova sala compartilhada com mais três colegas. Embora isso fosse algo que muitos resolveriam rapidamente, Marina ficou profundamente incomodada.
O simples fato de ter que dividir um espaço com outras pessoas parecia exaustivo. Além disso, ela interpretou a mudança como uma tentativa da empresa de forçá-la a interagir mais. Nos dias seguintes, Marina começou a evitar o novo espaço, trabalhando de casa sempre que possível e, quando era obrigada a ir ao escritório, se mantinha calada e distante, ignorando os colegas.
Reflexão e pequenos avanços
Eventualmente, a chefe de Marina percebeu seu desconforto e a chamou para uma conversa. Com paciência, ouviu Marina explicar que preferia trabalhar sozinha, pois isso a ajudava a manter o foco e se sentir confortável. A chefe decidiu acomodar suas preferências, permitindo que ela voltasse a trabalhar em um espaço mais isolado.
Embora Marina tenha ficado aliviada, a conversa despertou nela uma pequena reflexão: seria possível que suas dificuldades em lidar com mudanças ou pessoas estivessem impactando sua vida mais do que ela imaginava? Com essa ideia em mente, Marina decidiu buscar ajuda de um terapeuta, mesmo sem estar completamente convencida de que precisava disso.
O que podemos aprender com Marina?
A história de Marina nos ajuda a entender como o Transtorno de Personalidade Esquizoide pode moldar a forma como alguém percebe e interage com o mundo. Não se trata de timidez ou rejeição ativa das pessoas, mas de uma preferência genuína pela solidão e por um estilo de vida mais independente.
Por meio dessa narrativa, percebemos que, embora essas pessoas não sintam a mesma necessidade de conexão emocional, oferecer compreensão e respeito às suas escolhas é essencial para apoiá-las.
Nota Importante:
A história apresentada acima é completamente fictícia. Não se baseia em nenhum caso real ou paciente específico. Seu objetivo é ilustrar, de forma simples e acessível, como o Transtorno de Personalidade Esquizoide pode se manifestar no cotidiano, ajudando os leitores a entenderem melhor essa condição.
“Este texto é um convite à empatia e à compreensão, com o objetivo de informar e reduzir os estigmas em torno dos transtornos de personalidade.”
Referência Bibliográfica
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-5-TR. 5. ed., texto revisado. Porto Alegre: Artmed, 2023.





















Comentários