Por que algumas pessoas não sabem lidar com o não?
- Tatiana Moita

- 17 de jun.
- 3 min de leitura

Tem gente que ouve um “não” e escuta um “você não vale nada”. Mas será que é mesmo assim?
Tem pessoas que têm uma dificuldade enorme de lidar com o “não”. É como se ouvir essa palavra despertasse algo muito mais profundo do que simplesmente aceitar que algo não será como elas gostariam. Elas se sentem rejeitadas, desrespeitadas, desconsideradas. E muitas vezes nem percebem o quanto isso influencia a forma como se relacionam com os outros e com o mundo.
Lidar com frustrações faz parte da vida. Não tem como fugir disso. A gente nem sempre vai conseguir o que quer, nem sempre vai ser compreendido, nem sempre o outro vai estar disponível, concordar, ou corresponder como gostaríamos. E tudo bem. Isso é natural. Mas para algumas pessoas isso não é só difícil, é insuportável. E aí qualquer frustração vira um drama, qualquer “não” vira rejeição, qualquer limite imposto pelo outro se transforma em uma ofensa pessoal.
Essa dificuldade geralmente tem raízes bem antigas. Pode vir de uma infância em que a pessoa foi superprotegida e teve pouca oportunidade de lidar com a espera, com os limites, com a necessidade de ceder. Ou pode vir do extremo oposto: uma infância marcada por carência, abandono ou insegurança emocional, onde o desejo de ser aceito, acolhido e atendido virou quase uma necessidade vital. O fato é que, quando alguém tem baixa tolerância à frustração, não é porque é mimado, “dramalhão” ou imaturo. Na maioria das vezes, é porque ainda não aprendeu que nem tudo vai sair do seu jeito e que isso não precisa ser uma tragédia.
Pessoas com baixa tolerância à frustração costumam ter uma expectativa muito grande de que o outro as entenda, as atenda, as priorize. Elas confundem desejo com necessidade, e acreditam, ainda que inconscientemente, que o mundo deveria funcionar de acordo com a lógica delas. Quando isso não acontece, a reação pode ser explosiva, defensiva ou até passivo-agressiva. A pessoa se fecha, se magoa profundamente, ou então parte para o ataque, porque não sabe nomear nem lidar com aquilo que está sentindo.
Só que a frustração não mata. Ela ensina. Ela ajuda a desenvolver uma musculatura emocional importante para a vida. É através da frustração que a gente aprende a esperar, a negociar, a ceder, a recomeçar. E isso não tem nada a ver com se conformar com pouco ou se anular. Tem a ver com entender que a realidade não vai se moldar aos nossos desejos, e que tudo bem se nem sempre as coisas saírem do nosso jeito. É nesse ponto que a gente cresce, amadurece, desenvolve empatia.
Quem não aprende a lidar com o “não” vive em guerra com o mundo. Porque tudo parece uma ameaça. Tudo é pessoal. E viver assim é muito cansativo. É um desgaste constante, tanto para a pessoa quanto para quem convive com ela. Por isso, olhar para essas reações com mais atenção é um passo importante. Entender de onde vem essa dificuldade e buscar formas mais saudáveis de lidar com as frustrações pode transformar os relacionamentos, as decisões e até a autoestima.
Na clínica, isso aparece com muita frequência. Pessoas que se sentem facilmente magoadas, que têm dificuldade em aceitar opiniões contrárias, que não sabem lidar com a espera ou com a perda. E tudo isso pode ser trabalhado, acolhido e elaborado no processo terapêutico. A boa notícia é que essa habilidade emocional pode ser desenvolvida. Com tempo, com paciência e com apoio, é possível aprender a ouvir um “não” sem se sentir menos, sem se sentir atacado, e sem precisar reagir de forma exagerada.
Porque a verdade é que quem aprende a lidar com a frustração não se torna frio ou indiferente. Pelo contrário. Se torna mais forte, mais flexível e mais preparado para viver uma vida real, com encontros e desencontros, com ganhos e perdas, com desejos que se realizam e outros que não. E tudo isso faz parte da vida. Uma vida vivida de forma mais leve, mais honesta e mais humana.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BOCHNIA, Sílvia Helena Koller. Psicologia do desenvolvimento: uma perspectiva psicossocial. Petrópolis: Vozes, 2015.
DELGADO, Aline Rodrigues. O que é inteligência emocional. São Paulo: Planeta Estratégia, 2020.
FREITAS, Maria Cristina da Silva. Frustração: dor, aprendizagem e crescimento. Curitiba: Juruá, 2014.





















Comentários