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O Psicólogo Humanizado e a Autorrevelação Terapêutica: Como Funciona?

  • Foto do escritor: Tatiana Moita
    Tatiana Moita
  • 24 de out. de 2024
  • 4 min de leitura

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Na jornada terapêutica, muitas pessoas ainda enxergam o psicólogo como uma figura distante, quase imaculada, que está ali apenas para ouvir e aplicar técnicas, sem que suas próprias vivências entrem em jogo. No entanto, a realidade da prática psicológica humanizada é bem diferente. O psicólogo humanizado se propõe a ser mais do que um profissional que escuta, mas também alguém que compreende profundamente a dor do outro e utiliza essa compreensão para promover um ambiente de acolhimento e confiança.

 

Parte dessa abordagem envolve a autorrevelação terapêutica, uma técnica que, quando usada com cautela e propósito, pode ajudar a fortalecer o vínculo entre paciente e terapeuta. Nesse processo, o psicólogo pode, em momentos específicos, compartilhar brevemente algumas de suas próprias experiências ou emoções. Não se trata de tirar o foco do paciente, mas sim de humanizar a relação, mostrando que o psicólogo também é um ser humano com desafios, que também sente e enfrenta dificuldades na vida.

 

Mas por que essa prática pode ser útil?

 

1. Facilita a Empatia: Quando o psicólogo revela uma experiência pessoal que seja relevante para o que o paciente está passando, ele demonstra que compreende a dor em um nível mais pessoal. Isso pode ajudar o paciente a sentir-se mais compreendido e menos isolado em seus sentimentos;

 

2. Desmistifica o Papel do Psicólogo: O psicólogo humanizado não se coloca como uma figura superior, perfeita ou inatingível. Ao compartilhar algo de sua própria jornada, ele mostra que é uma pessoa comum, com suas próprias vulnerabilidades. Isso ajuda a quebrar o mito de que o psicólogo tem uma vida sem problemas e pode deixar o paciente mais à vontade;

 

3. Promove a Identificação e o Acolhimento: Ao saber que o psicólogo também enfrentou desafios e superou obstáculos, o paciente pode sentir-se mais confortável e seguro. A autorrevelação, nesse caso, não é um simples compartilhamento de histórias, mas uma forma de criar um espaço onde o paciente se sente verdadeiramente acolhido por alguém que entende o que ele está vivendo.

 

No entanto, é importante destacar que essa prática deve ser usada de forma estratégica. A autorrevelação terapêutica não é uma oportunidade para o psicólogo falar sobre si, mas sim um recurso que deve beneficiar o paciente. O foco sempre estará na jornada do paciente, e o psicólogo só deve utilizar essa ferramenta quando sentir que ela trará um impacto positivo ao processo terapêutico.

 

Além disso, o psicólogo humanizado não se limita a compartilhar experiências pessoais. A humanização está também na sua presença genuína, na escuta ativa e na empatia profunda que ele oferece. Mesmo sem dizer uma palavra sobre si, o terapeuta humanizado transmite ao paciente a mensagem de que ele está ali, disponível, para ajudá-lo a enfrentar seus desafios com acolhimento e sem julgamentos.

 

Em abordagens mais estruturadas, como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), a autorrevelação é menos comum, pois o foco está em técnicas objetivas para mudar padrões de pensamento, comportamentos e emoções com base em evidências científicas. A TCC é voltada para a identificação e modificação de pensamentos automáticos e crenças disfuncionais que afetam o comportamento e o bem-estar emocional. No entanto, isso não exclui completamente o uso da autorrevelação.

 

Na TCC, o terapeuta pode utilizar a autorrevelação de maneira estratégica, quando sentir que essa prática poderá beneficiar o paciente. Um exemplo disso é o psicólogo compartilhar uma experiência pessoal em que tenha usado as técnicas que está ensinando ao paciente, ilustrando a eficácia dessas ferramentas na prática. Nesse contexto, a autorrevelação é usada para reforçar a confiança do paciente nas estratégias de enfrentamento que estão sendo trabalhadas.

 

Apesar de não ser uma prática central na TCC, a autorrevelação pode ser um recurso adicional para ajudar o paciente a se identificar com o processo terapêutico, especialmente quando isso aumenta a motivação e o entendimento do paciente sobre as técnicas aplicadas. Assim, mesmo em abordagens mais técnicas, como a TCC, a humanização e a empatia permanecem essenciais para o sucesso do tratamento.

 

Por outro lado, em abordagens mais relacionais, como a Psicoterapia Humanista ou a Psicanálise Relacional, a autorrevelação é mais frequente, pois essas correntes teóricas valorizam muito o relacionamento terapêutico como parte do processo de cura. Nessas abordagens, a troca emocional e a vivência do psicólogo podem ser usadas para aprofundar a conexão com o paciente e criar um ambiente terapêutico mais próximo e acolhedor.

 

Em resumo, o psicólogo humanizado, ao usar a autorrevelação terapêutica, consegue equilibrar a técnica com a compaixão, tornando o processo de cura mais próximo, acessível e acolhedor. O importante é que, ao fim de cada sessão, o paciente sinta-se compreendido, respeitado e, sobretudo, humano, em toda a complexidade que isso envolve.

 

Esse texto integra a explicação sobre o uso da autorrevelação terapêutica tanto em abordagens mais estruturadas, como a TCC, quanto em abordagens mais relacionais, dentro do conceito de psicologia humanizada.

 



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:


BECK, Aaron T. Terapia cognitiva e os transtornos emocionais. Rio de Janeiro: Artmed, 1997.

(Aaron Beck, fundador da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), discute o foco da TCC em técnicas estruturadas para modificar padrões de pensamento, e aborda brevemente o papel da relação terapeuta-paciente, ainda que a autorrevelação seja rara nesta abordagem.)


COZOLINO, Louis. The making of a therapist: A practical guide for the inner journey. New York: W. W. Norton & Company, 2004.

(Este livro discute a importância da humanização na prática terapêutica e o papel do terapeuta como ser humano, abordando aspectos como vulnerabilidade, empatia e o processo de construção da relação terapêutica.)

 

FARBER, Barry A. Self-disclosure in psychotherapy. New York: Guilford Press, 2006.

(Este livro oferece uma análise profunda sobre a autorrevelação terapêutica, suas vantagens e limitações, e quando é mais apropriado que o terapeuta compartilhe suas próprias experiências.)   


GOLDFRIED, Marvin R.; DAVILA, Joanne. The role of relationship and technique in therapeutic change. Psychotherapy: Theory, Research, Practice, Training, v. 42, n. 4, p. 421-430, 2005.

(Este artigo explora o equilíbrio entre a aplicação de técnicas terapêuticas e a construção do relacionamento entre terapeuta e paciente, incluindo discussões sobre a autorrevelação na terapia cognitivo-comportamental.)


ROGERS, Carl R.Tornar-se pessoa. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

(Carl Rogers, fundador da Psicoterapia Humanista, coloca a ênfase no relacionamento terapêutico, na empatia genuína e no uso ocasional da autorrevelação, desde que isso beneficie o cliente.)

 

           


 

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2 comentários

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24 de out. de 2024
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Amei

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Tatiana Moita
Tatiana Moita
28 de out. de 2024
Respondendo a

Obrigada! 😍😍😍

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