A Síndrome do Impostor Silenciosa: Quando o Sucesso Causa Sofrimento
- Tatiana Moita

- 10 de abr.
- 3 min de leitura

Você já se sentiu como uma fraude, mesmo quando todos ao seu redor reconhecem sua competência? Já desconfiou do próprio sucesso, achando que ele veio por sorte ou por engano? Se sim, talvez você esteja lidando com a chamada síndrome do impostor e o mais curioso é que muitas vezes ela age de forma silenciosa, crônica, corroendo a autoestima aos poucos.
O que é a síndrome do impostor?
O termo foi cunhado originalmente nos anos 1970, mas permanece atual e relevante. A síndrome do impostor é um padrão psicológico em que a pessoa não consegue internalizar suas conquistas e vive com o medo constante de ser “descoberta” como uma fraude. O mais paradoxal? Ela costuma afetar pessoas altamente capacitadas, sensíveis e autocríticas.
A face silenciosa: quando não parece, mas é
Nem sempre a síndrome do impostor aparece com intensidade dramática. Muitas vezes ela se manifesta de forma sutil:
• Dúvidas constantes sobre si mesmo, mesmo após feedbacks positivos.
• Evitação de novos desafios por medo de não corresponder às expectativas.
• Dificuldade em aceitar elogios ou reconhecer mérito próprio.
• Uma sensação de que “os outros exageram” ao valorizarem suas conquistas.
Esses sinais podem ser facilmente confundidos com “modéstia” ou “humildade”, mas escondem uma autossabotagem emocional que mina o crescimento pessoal e profissional.
Vinheta clínica: quando a conquista dói
“Juliana, 34 anos, psicóloga recém-aprovada em um concurso público bastante concorrido, chegou à sessão chorando. Não pelo alívio, mas pela angústia. ‘Eu não consigo comemorar’, disse. ’Sinto que dei sorte. E fico pensando: será que eu vou dar conta?’. Mesmo com um histórico acadêmico excelente e muitos elogios ao seu desempenho, Juliana não conseguia se apropriar da própria vitória. Sentia-se como se estivesse ocupando um lugar que não era seu.”
Situações como essa são comuns em consultório. O sofrimento não está na ausência de sucesso, mas na incapacidade de vivê-lo com pertencimento e alegria.
A diferença entre insegurança e síndrome do impostor
Sentir-se inseguro diante de desafios é natural. O problema começa quando essa insegurança se torna sistemática, desproporcional e incapacitante. A síndrome do impostor transforma cada novo passo em uma ameaça e não em uma oportunidade. Ela mina a autonomia e a confiança, mantendo a pessoa em um ciclo de autoquestionamento constante.
Estratégias para começar a enfrentar
1. Reconheça o padrão: Nomear é o primeiro passo para transformar. Admitir que você sente isso é libertador.
2. Registre suas conquistas: Tenha um “diário de vitórias”, por menor que pareçam. Isso ajuda a construir uma narrativa de competência.
3. Fale sobre isso: Conversar com pessoas de confiança (ou em terapia) pode mostrar que você não está só.
4. Cuide do perfeccionismo: Perfeição não é sinônimo de competência. Errar faz parte do crescimento.
5. Pratique o autoelogio consciente: Não é vaidade reconhecer o próprio esforço; é saúde emocional.
O papel da psicoterapia
A psicoterapia, especialmente com base na abordagem cognitivo-comportamental (TCC), é uma ferramenta poderosa para desmontar crenças disfuncionais e promover um olhar mais compassivo e realista sobre si mesmo. É no espaço terapêutico que muitos pacientes começam a ressignificar suas conquistas e a enxergá-las como fruto de mérito, não de sorte ou engano.
Referências Bibliográficas
ALMEIDA, M. A.; OLIVEIRA, E. S. Trabalhando com autoestima na clínica psicológica. Belo Horizonte: Autêntica, 2019.
DEL’ISOLA, R. G. Síndrome do Impostor: o medo de não merecer o sucesso. Rio de Janeiro: Vozes, 2021.
RIBEIRO, W. S. O impostor que habita em mim. São Paulo: Summus, 2020.
VIEIRA, R. M. A autoestima e seus labirintos: entre o perfeccionismo e a autossabotagem. Porto Alegre: Artmed, 2022.





















Comentários