A Dubiedade do Ser: Entendendo as Oscilações Emocionais
- Tatiana Moita

- 21 de mar.
- 4 min de leitura

Somos seres paradoxais. Em um dia, nos olhamos no espelho e nos sentimos radiantes, confiantes, prontos para enfrentar o mundo. No outro, a mesma imagem reflete algo diferente: insegurança, dúvida, uma sensação inexplicável de inadequação. Essa oscilação entre extremos não é um defeito, tampouco um sinal de fraqueza, é a essência de sermos humanos.
Nosso estado emocional e nossa percepção sobre nós mesmos são influenciados por uma série de fatores: o contexto do dia, experiências passadas, nosso nível de descanso, alimentação, interações sociais e até mesmo elementos biológicos e hormonais. Por isso, há dias em que nos sentimos bons, competentes, amorosos, generosos. E há outros em que tudo parece errado, nos julgamos severamente, duvidamos de nossas intenções, sentimos que não somos tão bons quanto gostaríamos.
Essa montanha-russa emocional é normal?
Sim. A oscilação emocional faz parte da experiência humana. A psicanálise, por exemplo, trabalha com a ideia de que somos formados por diferentes aspectos psíquicos que nem sempre estão em harmonia. Freud (1923) já falava sobre o conflito entre o Id, o Ego e o Superego, forças internas que nos impulsionam, nos equilibram e nos cobram, gerando, muitas vezes, essa sensação de dubiedade.
Na psicologia humanista, Carl Rogers (1980) enfatizava a autoaceitação como um processo contínuo. Segundo ele, desenvolver uma “consideração positiva incondicional” por nós mesmos e aceitar que somos seres complexos, com dias bons e ruins, é essencial para o crescimento pessoal.
Essa oscilação também pode ser vista sob a perspectiva da Teoria do Self, de Winnicott (1965), que argumentava que a autenticidade nasce da aceitação de todas as nossas facetas, incluindo as que nem sempre gostamos de admitir.
A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) também fornece uma abordagem valiosa para compreender essas oscilações emocionais. Aaron Beck (1997), um dos principais teóricos da TCC, propôs que nossos pensamentos influenciam diretamente nossas emoções e comportamentos. Quando enfrentamos momentos de insegurança ou autocrítica, tendemos a ter pensamentos automáticos negativos que reforçam sentimentos de inadequação. O objetivo da TCC é identificar e modificar esses padrões de pensamento disfuncionais, promovendo uma visão mais equilibrada e realista sobre nós mesmos.
Albert Ellis (2001), com a Terapia Racional-Emotiva Comportamental (TREC), também destacou a importância da reestruturação cognitiva. Ele argumentava que não são os eventos que causam sofrimento, mas a interpretação que damos a eles. Assim, ao reformular crenças irracionais e absolutistas, podemos aprender a lidar melhor com nossas emoções e oscilações internas.
Quando buscar ajuda?
Embora seja “normal” se sentir diferente em dias distintos, o sofrimento intenso e persistente pode ser um indicativo de que algo precisa ser trabalhado mais profundamente. Quando essa montanha-russa emocional passa a prejudicar a rotina, a autoestima ou os relacionamentos, pode ser um sinal de alerta para buscar ajuda profissional.
Dúvidas sobre si mesmo, inseguranças e momentos de tristeza fazem parte da vida, mas não precisam ser vividos sozinhos. A terapia pode ajudar a compreender esses altos e baixos, identificar padrões, trabalhar a autocompaixão e desenvolver estratégias para lidar melhor com essas oscilações.
Aceitação: o caminho para a paz interna
A vida não é linear. Assim como o céu muda de cor, nossas emoções e percepções sobre nós mesmos também mudam. Aceitar essa fluidez é um passo importante para viver com mais leveza. Não precisamos nos sentir bem o tempo todo, e isso não nos torna menos valiosos.
Permita-se ser quem você é em cada momento! No dia em que se achar incrível, aproveite! No dia em que se sentir vulnerável, acolha-se! Somos feitos de contrastes, e é justamente isso que nos torna humanos.
Conclusão
A dubiedade humana não é um erro na nossa construção psicológica, mas um reflexo da complexidade da nossa existência. Somos, ao mesmo tempo, luz e sombra, amor e rejeição, força e fragilidade. Oscilamos entre a autoconfiança e a dúvida, entre a generosidade e a culpa, entre o desejo de pertencer e o medo de não ser suficiente e isso não nos torna falhos, mas humanos.
Essa oscilação pode parecer angustiante, mas não é sinal de fraqueza. O verdadeiro problema não está em sentir-se diferente a cada dia, mas na forma como interpretamos essas mudanças. Muitas vezes, acreditamos que a insegurança de hoje invalida a segurança que sentimos ontem ou que uma falha momentânea nos define mais do que nossos acertos. Mas isso é uma distorção. Você não é apenas os seus momentos de fraqueza, assim como não é apenas os seus momentos de força.
Na Terapia Cognitivo-Comportamental, compreendemos que nossos pensamentos influenciam diretamente nossas emoções e comportamentos. Quando nos julgamos com rigidez, reforçamos um ciclo de insegurança e autocrítica. Mas, ao aprender a desafiar esses pensamentos automáticos, começamos a enxergar nossas oscilações emocionais não como falhas, mas como parte natural da experiência humana.
Permitir-se sentir, sem cobrança excessiva, é um passo essencial para a aceitação. Afinal, a vida não exige que você seja perfeito, apenas que continue. Que continue sentindo, vivendo, aprendendo e sendo quem é, com toda a sua complexidade.
Referências Bibliográficas
BECK, Aaron T. Terapia Cognitiva: Teoria e Prática. Porto Alegre: Artmed, 1997.
ELLIS, Albert. Razão e Emoção na Psicoterapia. São Paulo: Cultrix, 2001.
FREUD, Sigmund. O Ego e o Id. Rio de Janeiro: Imago, 1923.
ROGERS, Carl. Tornar-se pessoa. Tradução de Sérgio P. de Lima. Rio de Janeiro: Editora Voz, 1980.
WINNICOTT, Donald. O Brincar e a Realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1965.





















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