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A dor que ninguém vê: o papel da psicologia na vida de quem vive com fibromialgia

  • Foto do escritor: Tatiana Moita
    Tatiana Moita
  • 27 de mai.
  • 3 min de leitura
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Viver com fibromialgia é, muitas vezes, viver em silêncio. É acordar todos os dias com o corpo cansado, mesmo depois de uma noite inteira de sono. É sentir dor mesmo sem machucar. É ter que explicar, mais uma vez, que não é “frescura”, nem preguiça, nem drama. É lidar com olhares de dúvida, com frases que machucam mais do que aliviam: “mas você nem parece doente”, “isso deve ser coisa da sua cabeça”.

 

E, de certa forma, é mesmo. Mas não como muitos pensam.

 

A fibromialgia é uma condição real, que afeta o corpo e a mente. É uma dor crônica, difusa, que se espalha pelos músculos e articulações, e que pode vir acompanhada de um cansaço intenso, dificuldades para dormir, lapsos de memória e alterações no humor. Quem convive com ela sabe que o impacto vai muito além do físico... a autoestima, os relacionamentos, a rotina, o trabalho, tudo pode ser afetado.

 

É nesse cenário que a psicologia tem um papel essencial. Porque quando o corpo dói, a alma também precisa de cuidado. O trabalho do psicólogo não é “curar” a fibromialgia, porque essa cura, infelizmente, ainda não existe. Mas ele pode ajudar a cuidar de algo tão importante quanto: a forma como a pessoa se sente em relação a si mesma, à sua dor e ao mundo ao seu redor.

 

A psicoterapia oferece um espaço seguro, livre de julgamentos, onde a dor é escutada de verdade e não apenas medida ou questionada. Onde há acolhimento e reconhecimento. Um espaço para colocar para fora tudo aquilo que pesa: o medo de ser um fardo, a raiva de não conseguir fazer tudo como antes, a tristeza de ver sonhos sendo adiados, a culpa por não dar conta. Na terapia, essas emoções são acolhidas com respeito e empatia.

 

Mais do que aliviar o sofrimento emocional, a psicologia ajuda a resgatar a autonomia. É um processo que permite reconstruir a forma de lidar com os próprios limites, fortalecer a autoestima e aprender estratégias para enfrentar os dias difíceis com mais leveza. Porque, sim, há dias bons também. E é importante aprender a reconhecê-los, valorizá-los, vivê-los com intensidade.

 

É preciso falar também sobre o preconceito. Quem tem fibromialgia muitas vezes carrega o peso de ter que “provar” que está doente. Porque não há feridas visíveis, nem exames que mostrem a dor. Isso gera um estigma silencioso, que pode isolar ainda mais. E é por isso que precisamos, como sociedade, praticar a empatia. Escutar mais. Julgar menos. Acreditar no que o outro está sentindo, mesmo que a gente não veja.

 

Felizmente, alguns avanços vêm acontecendo. Pessoas diagnosticadas com fibromialgia agora têm sua condição reconhecida por lei em várias partes do país, inclusive no Rio Grande do Sul, onde foi sancionada, em maio de 2024, a Lei nº 16.127/24.

 

Essa lei equipara as pessoas com fibromialgia às pessoas com deficiência, reconhecendo, portanto, os impactos severos da dor crônica no dia a dia. Isso significa acesso ampliado a direitos, programas, tratamentos e políticas de inclusão já assegurados às pessoas com deficiência.

 

A legislação reforça a necessidade de um olhar mais humano, biopsicossocial, que leve em conta não só a dor física, mas também o sofrimento emocional e social envolvido.

 

Esse reconhecimento é muito mais do que burocrático. Ele é simbólico e real: é a validação de uma dor que, por muito tempo, foi invisibilizada.

 

Mas, acima de tudo, essas pessoas têm direito ao respeito, ao cuidado e à dignidade.

 

Se você vive com fibromialgia, saiba que você não está só. Sua dor é real. Seu cansaço é válido. E você merece ser escutado, acolhido e respeitado. A psicologia está aqui para caminhar ao seu lado, não para dizer o que você deve sentir, mas para ajudar você a encontrar novas formas de viver mesmo com a dor, mesmo com os limites.

 

Porque viver com fibromialgia não significa viver menos. Significa viver com coragem, com sensibilidade, com resiliência. E, principalmente, com o direito de ser cuidado com amor e seriedade.



Referências Bibliográficas

 

CONJUR. Dia da Conscientização sobre Fibromialgia: direitos e benefícios garantidos por lei. Consultor Jurídico, São Paulo, 13 maio 2024.

 

RIO GRANDE DO SUL (Estado). Lei nº 16.127, de 14 de maio de 2024. Equipara as pessoas com fibromialgia às pessoas com deficiência. Diário Oficial da Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 15 maio 2024. Disponível em: chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://ww2.al.rs.gov.br/diariooficial/MostraPDF.aspx?arq=34ADA395-DDB3-406E-9291-F9C7618CB9C2&pSeteS=false. Acesso em: 27 maio 2025.

 
 
 

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